Sexta-feira, 27.07.12

A fertilidade dos solos

Sempre gostei da elegância simples da ideia. O factor limitante é por definição a causa a impedir um qualquer crescimento. Aplica-se sobretudo à biologia, a populações, ecossistemas, etc. O conceito é intuitivo: se não houver água suficiente para abastecer mais de um milhão de pessoas, uma cidade terá aqui o factor limitante e não passará de um milhão de pessoas.
Estudei a ideia aplicada à fertilidade dos solos, onde é crucial a relativa abundância de fósforo, potássio e azoto, sem os quais as plantas não podem constituir a respectiva massa. A questão é um pouco mais complicada, há minerais secundários, como enxofre, cálcio, ferro ou magnésio, sendo necessária matéria orgânica, muita água, dióxido de carbono e sobretudo luz. Mas sem aqueles nutrientes em quantidades generosas, havendo ausência de apenas um deles, a colheita está ameaçada. A fertilização dos solos concentra-se, assim, na reposição dos minerais e, acima de tudo, na preocupação em identificar e eliminar o factor limitante de determinado solo.
Julgo que a ideia se aplica a muitas situações da nossa vida. Podemos ter tudo, saúde, amor, e faltar-nos o dinheiro. Penso que também serve de metáfora para o que somos, alguns de nós trabalhadores e honestos, mas sem ambição; outros, cultos e capazes, mas cheios de vaidade. Enfim, os nossos maiores defeitos são sempre o factor limitante do que poderíamos ser. E isto parece ser verdade no mundo que nos rodeia: uma economia capaz de crescer sempre, embora com pequenos soluços, foi transformada numa sociedade em crise, pelos efeitos perversos da ganância selvagem.

 

Gosto de aplicar esta ideia aos livros, tentando perceber as razões da fertilidade criativa. William Faulkner dizia que há três elementos principais na escrita: o poder de observação, a nitidez da memória e a força da imaginação. Nos grandes livros, há equilíbrio ou relativa abundância dos três elementos. O autor pode ser mais forte na sua capacidade de observar, ou na fantasia que coloca no texto, mas não se sente a ausência de nenhum dos três factores. Nas obras falhadas, falta sempre um dos três elementos, por o autor se basear em excesso na memória e não efabular, ou por ser demasiado descritivo ou, pelo contrário, por não reflectir sobre aquilo que observou.
Claro que, como no caso da agricultura, as questões artísticas são mais complicadas. Não bastam estes nutrientes. A fertilidade depende de outras coisas, como tempo e cultura, um estilo próprio e original, a coragem de experimentar, mas também da capacidade de criar unidade e fluxo, partindo de uma ideia forte.

O assunto parece quase trivial, mas da fertilidade dos solos dependeram todas as civilizações. E a nossa não é excepção. Aliás, houve colapsos devido a processos de erosão. Quando os solos perdem a camada superficial, extremamente fina, onde se encontram os nutrientes, a sua capacidade produtiva perde-se também. A redução da fertilidade implica fome, doença e conflito.
A fertilidade artística, hoje em nítida crise, também nos diz muito sobre as patologias da sociedade. Como explicar o que parece ser a degradação geral da arte nas duas últimas décadas? Julgo que o maior factor limitante está hoje na degradação da memória, que se tornou cada vez mais curta. Mas não é a única causa, pois a dispersão em que vivemos não nos deixa pensar. Esta crise tem sobretudo a ver com a voracidade do tempo, a urgência que sentimos em gastá-lo o mais depressa possível, como se o amanhã estivesse mais perto. A contracção temporal obriga-nos a pensar mais depressa e, de certa forma, degrada os nossos poderes de observação e infantiliza o que imaginamos. Sobretudo, faz-nos esquecer. 

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publicado por Luís Naves às 13:54 | link do post | comentar
Segunda-feira, 23.07.12

Bica curta

Pediu uma bica curta e o empregado colocou sobre a mesa uma espécie de sopa negra, a chávena cheia até ao topo, o líquido excessivamente quente e sem a película de espuma queimada que era metade da graça numa bica curta. Ainda por cima, entregue com maus modos. O empregado deitou-lhe um olhar manhoso e na sua expressão ligeiramente torcida percebeu um vislumbre de ódio.
Em todo o café, as pessoas de carácter eram raras. Aliás, não viu nenhuma. Observou o triunfo dos gananciosos e dos videirinhos que se espalhavam em grupos pelas mesas, uns mais alegres, outros pensativos, uns a pedir galões, outros torradas a escorrer de manteiga. Pensou que o caminho estava facilitado para tolos e cínicos. Que os profetas da desgraça e os vendedores de sonhos, por muito que se enganassem, tinham sempre mais audiência do que os lúcidos. E não havia espaço para homens sem rótulo.
Reparou na ausência de discussões, notou que todos concordavam uns com os outros, fazendo salamaleques, num sorridente unanimismo. Naquele café, o carácter era tratado com desprezo e a independência de espírito criticada. Ele era o único que não pertencia a grupinhos, portanto, uma anomalia que o empregado detectara. Daí a pequena crueldade da bica cheia e a embirração do gesto, sobretudo a omissão com que fora tratado, como se fosse transparente. Por isso, ficou ali mais um minuto, a observar as falsas elites e a subserviência que mostravam.
Até se cansar. Então, tirou uma moeda do bolso, que deixou sobre a mesa, ao lado da bica intocada. Saiu, devagar, tentado ser altivo, mas esmagado pelo ardor de uma angústia que não sabia de onde vinha. O empregado nem sorriu ao pegar na moeda deixada, apesar dela incluir uma generosa gorjeta. As pessoas no café aumentaram o ruído das conversas, como se estalasse o alívio de o verem sair. Houve até algumas gargalhadas.
E, sem olhar para trás, sem saber que estava louco, o louco foi descendo a avenida.

publicado por Luís Naves às 11:18 | link do post | comentar
Sexta-feira, 20.07.12

Teoria da neutralidade

Instalou-se na blogosfera um peculiar mito, segundo o qual há dois tipos de jornalismo, o bom, que se caracteriza por uma pureza lava mais branco, e o mau, da pérfida manipulação conspirativa. Neste post de Nuno Lobo explodem algumas ilusões e preconceitos sobre o meio jornalístico que estão ligados a este mito.
Não me vou alongar, nem serei exaustivo na minha crítica ao post. Há de imediato um problema: o que é o "jornalismo interpretativo", em oposição a outra coisa qualquer? Por definição, o jornalismo é uma interpretação do real, envolve sempre um ponto de vista. Não há notícias neutras, nem reportagens, nem crónicas, nem entrevistas. Qualquer jornalista que afirme o inverso já perdeu a neutralidade. Esta parece-me uma negação da inteligência, pois trata-se de entender o que nos rodeia.
Também são estranhas as frases do autor "a política não incumbe ao jornalista" ou os "relatos meramente objectivos". Tudo isto me parece ser uma ilusão. Na realidade, o jornalismo sempre esteve ligado à política activa. Jornalismo e política são gémeos siameses, em democracia ou ditadura.
Não vale a pena adiantar muitos exemplos, mas basta a leitura dos jornais antigos. O jornalismo tentava retratar a pulsação da sociedade e quando hoje lemos o que foi escrito há cem anos deparamos constantemente com o ponto de vista do autor da prosa. Pode ser um tom irónico, uma visão elitista, o apoio subtil ou até declarado, mas o acontecimento histórico está sempre contaminado pela visão pessoal do jornalista. Isto é uma constante, não tem excepções. O próprio ritmo da prosa pode traduzir a emoção do repórter.
No caso da democracia, ninguém elege os jornalistas, mas estes estão (tal como os políticos) num  ramo que depende da credibilidade, o que explica a circunstância de tantas carreiras serem efémeras. Ao contrário do que afirma Nuno Lobo, o escrutínio faz-se em cada momento.
Levada ao extremo, a tese do jornalismo bacteriologicamente puro pode levar à limitação dos direitos cívicos e ao empobrecimento extremo da matéria jornalística, pois isto não comporta mais do que frases com sujeito, predicado e complemento directo.
O autor do post até podia ter levantado um problema bem mais interessante: a política activa disfarçada de comentário político. Portugal é um caso único no mundo, onde os políticos se apropriaram do comentário sobre a política e acham isso normal. Mas raramente sabemos se aquilo que estamos a ouvir é uma opinião sincera ou se visa obter um determinado efeito.


O repórter deve tentar distanciar-se dos factos, mas a neutralidade, essa, só existe nos cemitérios. Quando ouço argumentos sobre a separação entre jornalismo e política, a necessidade de criar severos mecanismos de escrutínio e regulação, sorrio sempre. Convém ao poder, a qualquer poder, dispor de uma imprensa dócil. A suposta 'neutralidade' significa apenas domesticar o ponto de vista e a interpretação dos factos, não é mais do que excluir todas as hipóteses de interpretação, menos uma, aquela que nos interessa.
A relatividade e a física quântica apontam para a incerteza naquilo que consideramos realidade. E, de facto, não há duas pessoas que olhem para um acontecimento da mesma forma. Tal como acontece com as partículas muito pequenas, a simples acção de observar condiciona a experiência. Traduzido para gente, basta colocar uma câmara de televisão na cena para o comportamento das pessoas mudar.

Ou seja, tentando simplificar, não é possível retirar a emoção de uma actividade humana que consiste em descrever os acontecimentos humanos.

 

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Quinta-feira, 12.07.12

Temas de grande literatura

Recomendo a leitura deste artigo de Michael Cunningham na revista New Yorker (em inglês), a propósito da polémica em torno do prémio Pulitzer para ficção deste ano, que não teve vencedor. O escritor explica os mecanismos da escolha, provavelmente numa tentativa de se justificar, mas sobretudo ficamos a perceber como pesam os gostos pessoais, a busca do mínimo denominador comuns e até os receios dos membros do júri de selecção, que leram a extraordinária quantidade de 300 livros para escolherem apenas três obras.
Parece inteligente a estrutura do prémio em duas fases, a primeira a seleccionar três obras e um júri final de 18 membros a analisar apenas esse lote de romances e colecções de contos. O processo parece transparente e ficamos a saber algo sobre a sua complexidade. Houve uma preferência pela temática americana, tendência confessada por grandes romances com visões amplas da sociedade. Esta última é uma questão apenas aflorada, mas o autor admite a certo ponto que a preferência pelo romance de género épico implica porventura perder-se o sentido da pequena observação significativa (surge o exemplo da pintura impressionista versus pintura clássica).


O artigo inclui uma lista de livros que não venceram o Pulitzer, mais ou menos parecida com a lista dos clássicos americanos do século XX. Os vencedores são estes. A leitura do artigo mostra como é falível um processo equilibrado de escolha de prémios literários. Na primeira fase, foram sacrificados livros que os membros do júri achavam óptimos; mesmo assim, foi concebida uma lista  de três obras de elevado mérito, pelo menos do ponto de vista do autor, para o segundo júri as recusar todas.
Julgo que Cunningham sublinha a dificuldade sentida por todos nós na compreensão da arte contemporânea. Na literatura, o que hoje os leitores percebem como genial foi no seu tempo quase inaceitável ou, pior ainda, totalmente ignorado. Por vezes, os livros que os críticos desvalorizaram ou atacaram reaparecem anos depois, reinterpretados por uma nova geração. Esses milagres são apesar de tudo raros, pois as grandes obras de arte são demasiado raras.
O processo de selecção tornou-se mais difícil, devido à forma como as artes evoluíram. A literatura contemporânea reflecte uma sociedade complexa e diversificada, também mais liberal, portanto aberta a discussões, paradoxalmente acelerada, logo sem tempo disponível para reflectir sobre os temas de maior fôlego. Daí que os romances contemporâneos (e não falo do número de páginas) sejam hoje curtos, pouco profundos, contrários à preocupação de Cunningham de descrever toda a sociedade em pinceladas fortes.
Os autores preocupam-se com pormenores que no passado teriam sido frívolos, como aliás fizeram os pintores na grande ruptura impressionista, ao tentarem captar a beleza do jogo de luz num jardim ao fim da tarde, a névoa invernal na estação ferroviária, reflexos num lago de nenúfares ou o campo de girassóis a sufocar ao sol violento do verão.

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Quinta-feira, 05.07.12

Lanterna vermelha

 

Sempre gostei de histórias antigas de ciclismo e este conto de jornalistas é inspirado na leitura das prosas de jornais sobre competições épicas. Trata-se aqui de um tempo em que não havia televisão e ao longo da estrada juntavam-se multidões que andavam quilómetros para poderem ver passar o pelotão durante alguns minutos. Os ciclistas eram heróis populares e os repórteres dos jornais narravam as vitórias comparando-as a grandes feitos, em prosas dramáticas, abundantes de adjectivos, onde brilhava o sacrifício, mas também o sangue e a dor.

 

  

   “Naquele tempo, as estradas eram infernais, cheias de buracos e havia perigos escondidos em cada curva. Andar na Volta a Portugal em Bicicleta era coisa de doidos, para homens como já não se fabricam, de outra têmpera. Você, que é jovem, pergunta-me qual o momento mais fantástico a que assisti, mas não consigo escolher, de tantos episódios que me ocorrem. A memória é estranha, menino, as coisas misturam-se, baralham-se, mas o que mais tento lembrar são aqueles homens já esquecidos, os lanternas vermelhas que se arrastavam atrás do pelotão, derrotados e, no entanto, persistindo sem fôlego montanha acima, sem os aplausos do público, quantas vezes com o escárnio dos que nas margens das estradas só viam o heroísmo sem verem a parte do sofrimento. Para mim, esses foram sempre os melhores, os que nunca desistiam, seguindo sozinhos, ou melhor, sempre acompanhados apenas pelas suas dores”.
   “O momento mais fantástico a que assisti? Não posso esquecer a primeira etapa da primeira volta que acompanhei. Recordo tudo como se fosse hoje. A primeira de 25 competições de ciclismo que cobri como repórter. Foi à sexta etapa da décima sétima volta a Portugal em bicicleta, no ano de 1952. Faz agora 36 anos, veja lá! A tirada compreendia 167 quilómetros e foi uma doideira pegada.”
   “Cheguei à corrida apenas na sexta etapa porque um camarada adoecera e mandaram-me para Coimbra para o substituir. Eu não sabia nada da modalidade, nem sabia quem eram os campeões habituais, o Fernando Moreira de Sá ou o Luciano de Sá, dois irmãos do Futebol Clube do Porto. O Moreira de Sá viria a ganhar essa volta. Na altura, eu tinha 21 anos, mais ou menos a idade que você tem, mas era mais estouvado. Enfim, lá fui para Coimbra e juntei-me à comitiva: os jornalistas iam num velho carrinho (nesse tempo tudo era velho) e anotavam todas as peripécias, em prosas muito visuais, porque não havia televisão e funcionávamos como os olhos do povo”.
   “Aquele foi um dia esplêndido de final de Agosto. Terça-feira. Recordo isso como se fosse hoje e ainda me lembro de umas frases tolas que escrevi: ‘Coimbra veio à ponte de Santa Clara despedir-se dos corredores. E foram centenas de pessoas que ali compareceram, apesar da hora matutina. Havia nuvens no céu e soprava um vento fresco. Lá em baixo, corriam fiozinhos de água, que são agora nesta época o Mondego das tradições’. Já viu as parvoíces que a gente escrevia? Mas deixei-me embalar pela verdura do Mondego. Ficaria mais tarde a saber que o vale tinha aspectos enganadores, pois para se passarem as montanhas é preciso esfolar o corpo até ele sangrar como um Cristo, suar até sentir que se morre de sede e chorar muito, mas mesmo muito, pela estrada fora”.
   “Lembro-me daquela etapa alucinante, por uma estrada tão má que houve mais de cem furos no pelotão. Havia 48 ciclistas à partida, faça as contas. As estradas eram um pavor e eles tinham de passar por descidas que metiam medo. A poeira era de tal ordem que nas curvas os ciclistas não viam nada, atiravam-se e rezavam para que não estivesse ali um obstáculo: podia ter ocorrido muita tragédia, mas isso seria numa etapa mais à frente, com três feridos em Vendas Novas. Eu não vinha preparado para descrever uma competição tão dura, e apesar de não estar em cima de uma bicicleta a torrar ao sol, só pensava em desistir da empreitada. Mas eles continuavam a pedalar. A cem quilómetros da meta, um homem fugiu do pelotão e prosseguiu sozinho até ao fim. Tinham-lhe dado uma bicicleta nova, porque a anterior andava empenada. Dizia-me ele no final, ‘podia ter sorte, podia não ter’ e encolhia os ombros, como se aquela fosse a banalidade mais simples do mundo”.
   “E pergunta-me você quem era este jovem tão corajoso, mas se eu lhe responder à pergunta, o nome não lhe vai dizer nada. Insiste? Quer saber? O corredor era do Sangalhos, chamava-se Joaquim Carrete e venceu a sexta etapa, mas não conseguiu chegar ao fim da volta. Aquele foi o seu maior feito no ciclismo e é assim com muita gente. Há um dia em que certa pessoa faz algo de extraordinário e depois passa anos a tentar repetir o que fez, mas parece que existe uma lei a impedi-lo. Nunca mais o consegue, por muito que se esforce, por muito que não desista. E assim aconteceu naquele caso. O homem venceu uma etapa na vida porque lhe tinham dado uma bicicleta nova”.
   “Sabe? Acho que toda a gente persegue um sonho e sem isso não haveria lanternas vermelhas, aqueles pobres desgraçados que se arrastam atrás do pelotão, por terem azar e demasiados furos ou por terem as bicicletas empenadas que se dão aos piores de cada equipa. Sem os medíocres não se percebe a excelência, mas nós, os repórteres, não gostamos de entrevistar o lanterna vermelha, dizemos que o público não se interessa por eles, que ninguém quer saber, que a história é escrita por vencedores”.
   “A última etapa da Volta de 1952 foi em Viana. Já lhe disse que venceu Fernando Moreira de Sá, um campeão. Eu era jovem e decidi contrariar essa nossa regra de não ligar ao último. Deu-me pena aquele esforço final e as gargalhadas que se ouviam no público, e o gesto que ele fez ao atravessar a meta, como se cumprisse um sonho. O homem chamava-se Simões Neto e disse uma frase que ainda hoje me faz pensar: ‘Assim como só há um vencedor, alguém tem de ser o último’. É preciso ter fibra especial para dizer coisas destas. Uma lição para a vida, que só agora, na velhice, compreendo totalmente: é como quem afirma que não faz mal, amigo, cheguei ao fim e não desisti, e se isso não lhe importa, pelo contrário, para mim é o mais importante”.
 

publicado por Luís Naves às 19:48 | link do post | comentar | ver comentários (1)

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