O rescaldo da incidência
Caminhava a bom ritmo, a descer a rua, a assobiar a melodia de uma canção antiga, J’Attendrai, mas a ritmo de jazz. Quando desemboquei no jardim, vi que muita gente estava a observar um homem em tronco nu, que parecia enervado, e que uma mulherzinha engraçada tentava acalmar. Ela tinha umas maminhas bem feitas e um rabinho assinalável, mas era bizarro estar ali, em pleno inverno, um rapaz em tronco nu, como já disse, observado por três bombeiros, uns trolhas da construção em frente, o senhor do restaurante, uma velhinha que passeava o gato.
Ao comprar o jornal, perguntei ao dono do quiosque o que acontecera e ele explicou-me que chegara tarde para assistir à “porrada”.
“Agora, é o rescaldo da incidência”, disse ele.
Interroguei-o, para saber pormenores. Dera-se uma luta breve entre aquele matulão e outro que vinha a passar e (especulação) atirara um piropo à rapariga das maminhas bem feitas.
Com a crise, anda muita testosterona no ar, e voaram caixotes do lixo e houve empurrões, murros e gritos. Foi rigorosamente assim, mas mais depressa.
Informado, segui para o meu destino, imaginando que talvez o rapaz em tronco nu conseguisse conquistar a beldade que o tentava acalmar no momento em que abandonei o local, mais ou menos na altura em que destroçaram os bombeiros.
Mas não houve caso nem final feliz. Os escritores sabem estas coisas; umas semanas depois do incidente do jardim, a rapariga escolheu outro paladino, um que não teve nada a ver com este filme.