Diario sem horas (4)
Hoje, o tempo alargou-se para além do sentido. E no entanto, atravessando as horas, as palavras ganham outras distâncias, passando fronteiras como aquelas que antigamente nos transportavam até às cidades cujos nomes já não existem; umas demasiado distantes outras extintas na poeira dos séculos. Por vezes, talvez demasiadas, as palavras aproximam-nos de quem está longe e afastam-nos de quem nos espera. Percurso esse cuja circularidade só existe na mente mais distante, a mesma que aguarda o todo que é suposto existir, no prato direito da balança que pesa o verdadeiramente dado. Assim é, mas com uma certeza porém: Aquele que tarda e fala as todas as línguas, tanto as próximas como as mais distantes, caminha no precipício da ausência. Desnecessário dizer mais do que isto: Hoje, as horas estendem-se sem que as palavras encontrem um intervalo onde viver...ou uma cama onde repousem para sempre.