Domingo, 22.01.12

Limites da oficina

Um dos aspectos mais difíceis da escrita é definir a linguagem das personagens. Exige-se sentido atento à forma como falam as pessoas, mas também verdade poética. Daí que seja difícil fazer diálogos. Por um lado, estes têm de parecer parte da vida, por outro lado, não podem ser meras transcrições, pois as pessoas reais geralmente só dizem banalidades ou usam interjeições e sons acompanhados de gestos. E as personagens não são pessoas reais, existem na imaginação do autor e, quando estão bem construídas, na do leitor também. Artifício q. b. é como a culinária, o sal vai a olhómetro, mas os verdadeiros cozinheiros deitam tempero sem sequer olharem para o tacho.
Quando existe narrador na primeira pessoa, as dificuldades aumentam, pois os leitores pensam que o texto é necessariamente autobiográfico. No entanto, a primeira pessoa é tanto mais eficaz quanto mais se afasta do próprio autor. Pensem em Lolita, por exemplo.

 

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publicado por Luís Naves às 19:09 | link do post | comentar
Quinta-feira, 08.12.11

Fragmentário é oficial

Esta oficina esteve em obras durante a primeira semana. Finalmente, tenho um título (Fragmentário) e o blogue é oficial. Muito agradeço a quem me visitou e linkou. Espero que voltem.

Tentarei colocar aqui algumas ideias, como se afirma em cima, ficções ocasionais, um pouco de crónica.

Adoro escrever estas aproximações a contos, que para mim são como o treino do pintor a desenhar. Não é exactamente trabalho. Por vezes, poderei não os publicar na íntegra, mas apenas parcialmente, e todos eles terão erros de fabrico. Por isso, não se espantem se não virem o fim. Na literatura, o processo de escrita é sempre mais complexo do que é possível fazer num blogue; a velocidade é outra, as frases são transformadas a pouco e pouco, num trabalho que pode prolongar-se muito além da primeira versão, a qual, digamos, é o exercício sem rede. O que vão ler aqui serão os esboços de textos cuja conclusão posterior terá o destino provável da minha gaveta. Dos que fiz em outros blogues, ficou um em cada cinco para esse trabalho (nunca terminado) de seleccionar uma colecção de contos publicável. Ao fim de seis anos de blogosfera ela ainda não existe.

Suponho que também haverá aqui excertos de ficções maiores.

Os meus textos de opinião continuarão a aparecer no Forte Apache.

Fragmentário é o lugar de um artesão, que escreve sem horário e por gosto, uma palavra à frente da outra, uma de cada vez.  

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publicado por Luís Naves às 11:39 | link do post | comentar
Sábado, 03.12.11

O mundo inexplorado

Ando por aqui às voltas com o título deste blogue, insatisfeito com os pobres títulos que me ocorrem, infeliz com os textos que tenho deixado a meio.
Estamos sempre a adiar o essencial, do corte de cabelo à escolha de um título.
Observando melhor o mundo, vemos sobretudo a natureza fluida da realidade, tal como uma pedra muda de forma quase invisível ou um glaciar se move, no seu deslizar grandioso.
Os sons que nos rodeiam são uma forma de surdez a outros ruídos inaudíveis; e as cores que vemos significam a nossa cegueira a outras sensações, para nós simplesmente invisíveis.
Como podia ser diferente com as emoções, quando só detectamos (e tão mal) as que são humanas?
Fora de nós não haverá todo um mundo inexplorado?

Seria um título melhor para as minhas dúvidas?

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publicado por Luís Naves às 17:14 | link do post | comentar

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