Limites da oficina
Um dos aspectos mais difíceis da escrita é definir a linguagem das personagens. Exige-se sentido atento à forma como falam as pessoas, mas também verdade poética. Daí que seja difícil fazer diálogos. Por um lado, estes têm de parecer parte da vida, por outro lado, não podem ser meras transcrições, pois as pessoas reais geralmente só dizem banalidades ou usam interjeições e sons acompanhados de gestos. E as personagens não são pessoas reais, existem na imaginação do autor e, quando estão bem construídas, na do leitor também. Artifício q. b. é como a culinária, o sal vai a olhómetro, mas os verdadeiros cozinheiros deitam tempero sem sequer olharem para o tacho.
Quando existe narrador na primeira pessoa, as dificuldades aumentam, pois os leitores pensam que o texto é necessariamente autobiográfico. No entanto, a primeira pessoa é tanto mais eficaz quanto mais se afasta do próprio autor. Pensem em Lolita, por exemplo.