História do Futuro (volume IV) 2050-2060
Os motivos do colapso generalizado da civilização ocidental têm sido objecto de grande controvérsia entre os académicos. Há centenas de estudos sobre este interessante tópico e destacam-se dois tipos de explicação: os recursos disponíveis eram insuficientes ou foram utilizados até ao extremo; as desigualdades sociais que resultaram da crise do capitalismo e das tecnologias genéticas provocaram o declínio da ordem económica. Sem querer entrar em pormenores, julgo que há bases sólidas para apoiar ambas as teses. Dada a natureza complexa dos fenómenos associados a este período histórico, que é extremamente curto (na realidade, uma simples década) torna-se difícil fazer um resumo eficaz.
A civilização do ocidente dependia em excesso de dois elementos: petróleo, de onde obtinha o essencial da sua energia; e capital, a base de uma ordem económica baseada no mercado livre e que, na primeira metade do século XXI, foi excessivamente desregulado. O petróleo era essencial não apenas para iluminar as cidades, mas para a produção industrial e alimentar, transportes e aquecimento. A queima de combustíveis fósseis tinha forte impacto nas mudanças climáticas e a economia girava em torno do preço do combustível, cujas flutuações demasiado rápidas provocavam crises regulares.
A ruptura ocorreu entre 2050 e 2060. Esta série negra de anos desastrosos correspondeu ao rebentar da pressão de vapor acumulada nas décadas anteriores, consequência da crise energética que se desenvolvera a partir dos anos 10 do século XXI. Existe ainda hoje uma ideia errada de que os poços petrolíferos eram como lagos líquidos formando uma determinada camada geológica. Bastava perfurar e o líquido escorria. Na realidade, o produto estava embebido na rocha e sob pressão, pelo que a sua extracção total era impossível. Os poços começaram a perder força (no sentido literal do termo) e acabaram por tornar-se demasiado dispendiosos, sendo então abandonados. O declínio de produção que resultou do esgotamento das zonas mais ricas do mundo agravou-se nos anos 20 e 30, com aceleração brutal nos anos 40. Calcula-se que o pico petrolífero (máxima produção) foi atingido em 2012. A queda que se seguiu foi suave, mas acompanhada pelo aumento das necessidades de consumo e pelo fracasso das energias alternativas, sobretudo da energia solar, cujas limitações só foram devidamente superadas no século XXII. Herman Roka especula no seu livro Ascensão e Queda da Civilização Ocidental que uma ruptura tecnológica poderia ter resolvido a equação, mas o facto é que não houve esse milagre. Paul Davos escreve algo de semelhante no seu estudo Avanços e Retrocessos. Em 2020, o barril de petróleo atingiu pela primeira vez os 200 dólares norte-americanos (o equivalente contemporâneo a 10 karmas) e, em 2034, no quinto choque petrolífero, o barril de crude passou os 350 dólares, na prática levando à falência inúmeras indústrias em que o uso de energia era intensivo (processamento alimentar, automóvel, siderurgias). Em 30 anos, a produção mundial caíra de quase 100 milhões de barris diários para menos de 40 milhões.
Imagem: Cidade a Arder, 1913, do pintor expressionista alemão Ludwig Meidner (1884-1966)